A humanidade vive em busca da alegria, do prazer e da tal felicidade. O carnaval, festa tradicional do povo brasileiro, está aí, e, com isso, cresce a ansiedade de milhões de brasileiros a fim de experimentarem mais alguns momentos alegres na vida. Estas duas coisas — a busca humana e o carnaval — proporcionam um debate muito importante no que diz respeito ao significado da alegria. O que é alegria e como alcançá-la?
Antes de tudo, façamos uma diferenciação entre alegria e euforia. O termo euforia foi utilizado pela primeira vez em 1875 para referir-se ao contentamento experimentado pelos viciados em morfina. Hoje, tal expressão ganhou um sentido menos clínico e mais social. Podemos dizer que euforia é um sentimento de “alegria” e “bem-estar” que alguém experimenta quando condicionado a um determinado ambiente. Por outro lado, na perspectiva bíblico-cristã, alegria é uma experiência interna do coração, condicionada essencialmente a uma relação íntima com Deus, apesar dos ambientes externos.
Em outras palavras, euforia é um sentimento que acontece de fora para dentro; é gerado por fatores externos como festas, bebidas, drogas e um ambiente favorável para o acender das emoções. Alegria é um sentimento que acontece de dentro para fora; é gerado por Deus no coração humano possibilitando tal pessoa a desfrutar do contentamento dentro de quaisquer ambientes e apesar deles. Assim, que tipo de sentimento milhões de brasileiros estão em busca neste carnaval e na sua vida como um todo? De fato, acredito que todos nós buscamos a verdadeira alegria, mas somos enganados pelo nosso próprio coração e pelo sistema anti-Deus da nossa era, que só nos oferece euforia.
No entanto, na perspectiva bíblica e cristã, a alegria é possível. Por exemplo, no Salmo 126 encontramos ao menos seis indicações de alegria: “Ficamos como quem sonha”, “nossa boca de encheu de riso”, “estamos alegres”, “a nossa língua se encheu de júbilo”, “com júbilo ceifarão”, “voltará com júbilo”. É muita alegria. Parece que o poeta diz: “Alguém me belisca, parece que eu estou sonhando!”. Qual é a origem dessa alegria? E a resposta é: Deus, pois é o Autor da alegria. Mas alguém poderia retrucar: “Deus é um conceito abstrato e transcendente. Como Ele pode proporcionar alegria para seres humanos de carne e osso?”. O texto oferece pelo menos três insights valiosos que respondem a esta pergunta.
Primeiro, a alegria é possível por meio daquilo que Deus já fez em nós e por nós. O texto é claro ao dizer: “… grandes coisas fez o Senhor por nós; por isso, estamos alegres”. No caso de Israel, os grandes feitos de Deus estão relacionados à libertação da escravidão, tirando-os das mãos de Faraó no Egito, e à situação vivencial do salmista, no retorno do povo à Jerusalém após anos de opressão na Babilônia. Em nosso caso, como cristãos, somos alegres pelo que Jesus fez definitivamente por nós na cruz, onde Ele arrancou o Egito e a Babilônia de nós, cancelando o nosso passado de opressão.
Segundo, a alegria é possível por meio daquilo que Deus faz em nós e por nós. O salmista continua dizendo: “Então, entre as nações se dizia: Grandes coisas o Senhor tem feito por eles”. Passado e presente interligados. No caso do povo de Deus, isso se refere à reconstrução da nação israelita, seus muros, sua economia e sua espiritualidade. Em nosso caso, diz respeito à ação divina em nós diariamente pela mediação do Espírito Santo, o qual reconstrói todas as dimensões da nossa vida com o passar do tempo.
Terceiro, a alegria é possível por meio daquilo que Deus ainda fará em nós e por nós. O poeta afirma: “Restaura, Senhor, a nossa sorte, como as torrentes no Neguebe”. Passado, presente e futuro interligados. O Neguebe era um deserto seco o ano inteiro que, contudo, por vezes, recebia inundações causadas por grandes chuvas. O povo de Deus pede a mesma coisa, água viva fluindo através de nossos desertos. Nesta vida experimentamos desertos de tristezas e dor, mas há uma promessa futura que nos torna contentes apesar do ambiente de sofrimento, é a esperança da vinda de Jesus e, consequentemente, da restauração de toda a criação.
Por fim, pare um minuto e pergunte a si mesmo: vivo de euforia ou experimento a realidade da alegria? O carnaval pode ser um tempo de reflexão para os cristãos — que geralmente estão em acampamentos — para definir qual é realmente a fonte e o meio de apropriação da verdadeira alegria. Que seja assim com você, leitor; não seja mais um no desfile da euforia, entre para a escola da alegria.