Os extremos são perigosos. Há na igreja aqueles que reduzem o Cristianismo à prática da caridade; outros que tapam os ouvidos ao clamor dos aflitos. Há aqueles que reduzem o Evangelho ao social; outros nada veem no Evangelho sobre o socorro aos necessitados. Esses dois extremos não têm amparo nas Escrituras. A Palavra de Deus acentua o privilégio de pregar o Evangelho e a responsabilidade de socorrer os necessitados. Destacaremos alguns pontos:
Em primeiro lugar, as obras são a evidência da nossa salvação (Ef 2.8-10). Não somos salvos pelas obras, mas para as boas obras. As boas obras não são a causa, mas o resultado da nossa salvação. A justificação é pela fé somente, mas a fé salvadora nunca vem só. A fé sem obras é morta (Tg 2.17). São as obras que autenticam a nossa fé, pois somos feitura de Deus, criados em Cristo Jesus, para as boas obras. Tiago escreve: “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tg 1.27).
Em segundo lugar, a prática do amor é a evidência de que somos discípulos de Cristo (Jo 13.34,35). Provamos que somos discípulos de Cristo não apenas pela doutrina que professamos, mas, sobretudo, pelo amor que praticamos. Devemos amar como Cristo nos amou, ou seja, com amor sacrificial. Como? O apóstolo João responde: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a Sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo 3.16). Como podemos demonstrar esse amor? Socorrendo os aflitos, alimentando os famintos, visitando os enfermos e dando abrigo aos forasteiros! Somos conhecidos como discípulos de Cristo pelo amor. O amor é a apologética final, a evidência irrefutável de que amamos como Cristo nos amou.
Em terceiro lugar, seremos julgados no dia do juízo se nos omitirmos na prática do bem (Mt 25.31-46). Saber que se deve fazer o bem e não o fazer é um pecado. No dia do juízo seremos julgados pelas nossas palavras, ações, pensamentos e omissões. Não dar pão ao faminto, água ao sedento, roupa ao nu e abrigo ao forasteiro é um grave pecado aos olhos de Deus. Deixar de visitar o encarcerado e o enfermo em sua aflição é uma negação do amor que professamos. No dia do juízo, Jesus dirá aos que estiverem à Sua direita: “Estive com fome e me destes de comer”. Como assim Jesus? “O que fizestes a um desses pequeninos, a mim o fizestes!”
Em quarto lugar, devemos fazer o bem a todos, sem distinção (Gl 6.10). Muito embora devamos cuidar primeiro dos membros da nossa família e dos domésticos da fé, nossa generosidade não pode parar aí. Devemos fazer o bem a todos, sem exceção e sem acepção. Devemos pagar o mal com o bem. Devemos dar àqueles que não podem nos retribuir. Devemos alimentar até mesmo os nossos inimigos. Devemos abençoar quem nos amaldiçoa e orar por aqueles que nos perseguem (Rm 12.17-21).
Em quinto lugar, devemos ajudar de forma prática aqueles que estão em nosso caminho (Lc 10.29-37).O nosso próximo é toda pessoa que está ao alcance da nossa mão. Jesus contou a parábola do bom samaritano para destacar o fato de que nossa ajuda precisa ser prática e endereçada, até mesmo àqueles que historicamente são considerados como nossos inimigos. O samaritano, desprezado pelos judeus, é quem estende a mão ao homem moribundo à beira do caminho. Amar apenas aqueles que nos amam e servir apenas aos domésticos da fé é uma limitação da ação misericordiosa de Deus, estendida a todos os homens. Se Deus nos amou quando éramos fracos, ímpios, pecadores e inimigos, iremos nós sonegar amor aos que estão na mesma condição?
Em sexto lugar, a verdadeira espiritualidade passa pelo amor prático ao nosso próximo (Is 58.6,7). Deus está mais interessado na prática do amor do que na observância de rituais religiosos. Os fariseus eram criteriosos em observar seus rituais, mas não hesitavam em explorar até mesmo os órfãos e as viúvas. Deus Se agrada mais da misericórdia do que de sacrifícios. Atos de amor valem mais do que palavras de amor. O jejum que Deus requer é cessar de acusar o próximo e dar pão ao faminto, vestir o nu e receber em casa os desabrigados.
Em sétimo lugar, quando a Igreja pratica boas obras na terra, Deus é glorificado no Céu (Mt 5.16). Jesus foi enfático em dizer que nossa luz deve brilhar diante dos homens, para que eles vejam as nossas boas obras e glorifiquem ao Pai, que está nos céus. Nossas ofertas de amor ao próximo sobem à presença de Deus e são recebidas por Ele como aroma suave. Isso redunda em gratidão no coração dos homens e em ações de graças a Deus.