“Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho…”. (Hb 1.1,2)
A Carta aos Hebreus, com singular beleza e não menor profundidade, de forma decisiva e peremptória, declara a existência de Deus. Por mais que os ateus neguem Sua existência e os agnósticos acentuem a impossibilidade de conhecê-Lo, Deus existe. Deus não apenas existe, mas, também, Se revelou. O conhecimento de Deus não se dá por meio da investigação humana, mas pela auto-revelação divina. Só conhecemos a Deus porque Ele revelou-Se a nós. Deus fala e Sua voz é poderosa. Como Deus Se revelou?
Em primeiro lugar, Deus Se revelou na obra da criação. O salmista Davi foi enfático em dizer: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de Suas mãos” (Sl 19.1). O universo vastíssimo e insondável, com mais de noventa e três bilhões de anos-luz de diâmetro é o palco onde Deus reflete a glória de Sua majestade. Vemos as digitais do Criador nos incontáveis mundos estelares, bem como na singularidade de uma gota de orvalho. Tanto o macrocosmo como o microcosmo falam da grandeza de Deus. Cada entardecer e cada novo amanhecer pintam diante dos nossos olhos uma paisagem nova, refletindo quão grande e quão sábio é o nosso Deus.
Em segundo lugar, Deus Se revelou na consciência do homem. O filósofo alemão Emmanuel Kant disse: “Há duas coisas que me encantam: o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim”. Deus colocou dentro do homem um sensor, chamado consciência (Rm 2.15). É uma espécie de alarme que toca sempre que o homem transgride um preceito moral. Essa consciência acusa-o e defende-o. Porém, em virtude do pecado, a consciência do homem pode tornar-se fraca e até cauterizada, sendo, portanto, insuficiente para revelar-lhe, claramente, a pessoa de Deus.
Em terceiro lugar, Deus Se revelou progressivamente pelas Escrituras proféticas. Deus falou muitas vezes e de muitas maneiras aos pais pelos profetas. Usou muitos métodos e vários instrumentos para comunicar aos nossos antepassados Sua lei e Sua vontade. A antiga dispensação foi dada ao povo de Deus, pelo próprio Deus, por meio de Seus servos, os profetas. A antiga dispensação, porém, foi parcial, incompleta e fragmentada. Ela era preparatória e não final. A lei nos foi dada não em oposição à graça, mas para nos conduzir à graça. O Antigo Testamento não está em oposição ao Novo. Ao contrário, aponta para ele e tem nele sua consumação. Nas palavras de Aurélio Agostinho: “O Novo Testamento está latente no Antigo Testamento e o Antigo Testamento está patente no Novo Testamento”. No Antigo Testamento temos o Cristo da Promessa; no Novo Testamento temos o Cristo da História. Na plenitude dos tempos, Ele nasceu sob a lei, nasceu de mulher, para remir o Seu povo de seus pecados e trazer-lhe a plena revelação de Deus.
Em quarto lugar, Deus Se revelou completamente em Seu Filho. O Filho é a última e completa revelação de Deus. Não há mais revelação por vir. No Filho, vemos o próprio Deus de forma plena. O Verbo divino Se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a Sua glória, glória como do Unigênito do Pai. Ele é a exata expressão do ser de Deus. Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade. Ele é da mesma substância de Deus. Tem os mesmos atributos de Deus. Realiza as mesmas obras de Deus. Agora, nestes últimos dias, Deus nos falou pelo Filho. Portanto, Deus não tem mais nada a acrescentar em sua revelação. Assim, o Novo Testamento não é a apenas a sequência natural da revelação progressiva do Antigo Testamento, mas sua consumação plena. A lei não está em oposição à graça, mas tem sua consumação nela. Cristo é o fim da lei. Agora a Bíblia está completa. Tem uma capa ulterior. E isso nos basta: ela é inerrante, infalível e suficiente!